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Recebi a Dona Chica no leito de minha palhoça [por Marcelo Novaes]
Recebi Dona Chica do Igapó,
aqui no Sum Paulo, no leito de
minha palhoça. Perguntei se ela
não se importava. Foi sincera:
"fudendo bem eu não me importo,
pois da roça vim tumém".
Quebrou o estrado de minha cama
com nossos pesos e nossas glosas.
Foi singela também dessa vez, e entre
"ais" e "uis", me disse: "do chão não passa".
Dona Chica do Igapó é mulher sábia.
Comendo na rua Augusta, perguntou
ao garção o que era mais fino: espagueti ou
talharino. Pediu talharino ao sugo, e comeu com
a mão. Pediu pra por o sugo no copo, e bebeu de
uma vez só, como fez com o capacete amarelo:
caninha pura do Caicó.
Garfo era pra palitar os dentes da frente: seis. Disse
que tava bom o talharino, mas a data era errada:
devia estar melhor no dia de feito, na semana
retrasada. Cuspiu no chão, pro lado direito, pra
mostrar sua indignação. [Eita mulher arretada,
essa Dona do Doido, de causar doida paixão!].
Sugeri que mudasse seus modos, diante dos olhares
do garção. E ela entendeu de vez: cuspiu do lado esquerdo,
então. Enquanto esperava a sobremesa, fez seu cigarro de
páia, com fumo de rolo cortado a naváia. Dona Chica disse
que cum ele, no Igapó, tinha capado uns cabra. Fiz cara de
dó, disfarçando a dor imaginada.
Perguntou se aquelas meninas todas, na rua,
eram mocinhas de viração. E se não tinham
casa da luz vermelha. Se faltava boa
administração.
Apontei para as boates todas, famosas.
Pasmou-se ela, dizendo ver luzes azuis,
brancas, amarelas, mas nenhuma da cor
certa, todas piscando juntas, com muitas
letras apagadas. Havia uma casa de cujo
nome queimado só restara o acento agudo.
Era Tetéa, nome bhão danado. Mas Dona
Chica achou descuido e falta de cuidado.
E disse que, em sua cidade, se segurava a
freguesia. E agradecia a preferência, como
nas padaria.
Na hora de ir embora, na rodoviária, quis lhe fazer
um presente: um cheque de despedida. Polpudo
e decente. Dona Chica ofendeu-se. Disse estar a
passeio e que, em seu coração, lugar pra cobiça
não havia. E, além do que, havia sido boa a foda e
doida a bobiça. Ficou de voltar. E disse: até mais
ver!, levantando a saia. Deixando-me entrever sua
peluda aranha: por dois dias, meu bicho de pelúcia.
Dona Chica num é amostrada, nem piranha.
É Dona de vida torta-certa e bem arranjada.
Espero que ela vorte logo, sem se demorá:
pros meus zóio não se moiá de lágrima. Ela
foi dizendo me amá. E afiando a naváia, bem
escondida. Debaixo da aranha, doida e bem...
amada.
Marcelo Novaes
Eu vô vortá pra Sum Paulo e num vô demorá. Molhado é só seu passarim qui eu quero deixá, viu, seu caba arretado da mulésta. Eu vô é chamegá muito cum ocê. Arre diacho, qui essa quentura não passa.
ResponderExcluirUm xero procê, meu amô.
Eita Dona Chica arretada de bhoa dhanadha!
ResponderExcluirXêrus e fungadas, longas, não-ligêras.
Marcelo.
Essa dona Chica deve se arretada por demais da conta sô.
ResponderExcluirbjimmm
Dona Chica: Grato por sua visita ao Balaio. Mas, não se esqueça, Chico Doido sempre foi raparigueiro. Por que, então, tanto abestamento, oh mulher? Um abraço.
ResponderExcluirDona Chica: Você anda muito preguiçosa. Quando teremos uma nova postagem? Abraços do Seridó.
ResponderExcluirô, hômi... Eu tô di chico, e num é o chico doido, si fosse eu tava feliz. É qui dispois que inventaru essa tar di tpm, eu num tenhu mais sussêgo nessa vida... Mas vou voltá logo, visse?
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